segunda-feira, 19 de maio de 2014

saída do armário para a mãezinha

a minha mãe chegou na sexta às 21h30, ao ir para a santa apolónia fiz um desvio e passei pela casa do artista para dar-lhe um beijinho. o comboio da minha mãe atrasou-se meia hora mas quando chegou levei-a a jantar num madeirense. eu tinha como objectivo contar à minha mãe nesse mesmo dia mas não consegui, não achei que fosse a altura. 

no sábado já se sabia que eu tinha de ir para a color run, foi por esse motivo que a minha mãe veio a lisboa e não fui eu ao norte. levei a minha mãe para carcavelos para ela passar o dia na praia e ao fim do dia ainda foi ver a festa. eu e o artista fomos fazer o nosso trabalho. enquanto o artista ajudava na criação dos kits eu ajudava na produção do voluntariado. quando juntei-me ao artista ele já tinha feito umas amigas. eu fiquei na como coordenador da color station rosa.. yah, fiquei com os rosinhas! o artista estava na azul e o meu amigo de loures estava na laranja mas não foi difícil passar ambos para os rosinhas para ficamos todos juntos. mais uma vez eu fiquei impressionado com a facilidade do artista em conectar-se com as pessoas e em socializar, enquanto eu estava a organizar as posições do pessoal e a ver como é que aquilo ia funcionar melhor, o artista já andava a fazer amigos, a tirar selfies com pessoas que tinha conhecido há trinta minutos. eu gosto disso nele. a corrida correu normalmente, diverti-me muito a atirar tinta à malta, pelo meio o artista aleijou-se no pé mas nada de grave, só uma pequena entorse. o artista estava com medo de não gostar do voluntariado mas no fim disse que adorou, pudera, já lhe tinha dito o quão fixe é. no fim, juntamos-nos para tirar umas fotos e eu dei o meu telemóvel para alguém tirar, no fim de tirarem perguntaram:
-rapariga: de quem é este telemóvel?
-eu: é meu.
-rapariga: ah, é de qualidade por isso só podia ser teu.

eu fiquei tipo, what? mas ri-me por causa da associação da qualidade do telemóvel à minha qualidade física. 
-artista: as raparigas andavam todas doidas por ti.. viste aquela que disse que o telemóvel só podia ser teu? só me apetecia atira-la ao mar.

trocou-se os contactos com a malta toda e pronto. nesse dia recebi uns 15 convites de amizade no facebook. deixei o artista em casa e fiquei com a minha mãe em casa a ver um filme.

no domingo levei a minha mãe à costa da caparica, foi bom relaxar e apanhar sol. como aquilo estava muito calmo e com poucas pessoas.. com o passar do tempo fui ganhando coragem para contar à minha mãe. eu não sabia como puxar o assunto mas segui o conselho que o artista deu-me e usei-o. "mãe tenho algo para te contar, o artista não é um simples amigo, é mais do que isso". disse-me coisas como "não era isto que estava à espera de ti", "se viste que estavas a sentir algo por um rapaz devias afastar-te" e eu respondi "isso não tem lógica, se eu vejo que posso ser feliz com alguém porque é que vou virar costas a isso?", disse-me que foi lisboa que me fez mal "não mãe, não foi lisboa, para tu veres, eu contei à minha melhor amiga que sou bi ainda antes de ir viver para o porto.. há uma carrada de anos", perguntou-me se não queria filhos algo que sempre quis e muito. disse que não ia ser fácil para a família aceitar, eu disse-lhe que para mim o importante era ela aceitar, o resto acho que vai aceitar na boa tirando uma das minhas tias favoritas mas mesmo ela vai aceitar com o tempo, quanto ao meu pai, já não o vejo há dois anos.. por isso não me faz diferença. falei-lhe do artista, de como a mãe dele reagiu, a mãe do artista culpou-se e eu estava a explicar que não havia razão para isso, a minha mãe disse que acha que não falhou em nada e eu disse-lhe isso mesmo, que ela pode ver que eu sou o que sou agora porque ela não falhou em nada. disse-me que houve uma altura que desconfiou algo mas por causa do meu melhor amigo, ela já tinha desconfiado que ele era gay mas de resto nunca pensou isso sobre mim. depois deixei-a um pouco a pensar e mais tarde voltamos a falar, disse-lhe que queria contar-lhe porque não gostava de estar a esconder-lhe uma parte da minha vida, uma parte importante, assim será uma maneira de ficarmos mais próximos. ela abraçou-me e disse que gostava muito de mim. a conversa nem foi muito longa mas deu para perceber que apesar de não ter gostado muito da ideia, aceitou-a e com o tempo tudo ficará melhor. 

levei-a ao el corte inglês no fim da praia para ela provar um llaollao e lá ela perguntou-me sobre este caso que escrevi aqui em que a minha mãe apanhou-me com um rapaz na cama, perguntou-me se ele também era e eu disse-lhe que sim, foi um rapaz com quem andei. e a partir daqui não se falou de mais nada sobre este tema.

fiquei mais descansado depois de ter contado isto, é menos um peso, menos uma preocupação. 

24 comentários:

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Yey! Boa! Correu tudo bem :)

Anónimo disse...

Parabéns! Não deve ter sido nada fácil dar esse passo! Fico muito contente por ti! ^^

Grande abraço :)

Miguel R disse...

Isso do ser masculino é tudo muito relativo, até mesmo pras mães. Podes ser o homem mais afeminado do mundo que em alguns casos as mães não desconfiam.
Nunca tive aquela necessidade enorme de me assumir perante a minha mãe, simplesmente pq n gosto de me justificar seja em que aspeto for, muito menos sentido me faz fazê-lo num aspeto tão intimo quanto esse, Acho que quando o fizer vai ser pelo sentido prático da coisa, porque é uma chatice andar a sair com o namorado - não tenho a tua sorte e vivo em casa dos pais - e ter que arranjar desculpas para não dar muita bandeira. Embora perceba a tua coisa do alívio, talvez não o sentisse nesse aspeto, porque não é uma coisa que me preocupa. Olha, ainda assim tiveste sorte, que não fez um grande drama.

Aaron disse...

@Ricardo
correu sim :D

@João
não foi fácil mas lá consegui.. :)
abraço

@Miguel R
mas acho que é mais fácil desconfiarem quando têm um filho mais feminino e que nunca teve uma namorada do que o contrário.
eu nunca tive essa necessidade até há bem pouco tempo, não é bem necessidade mas simplesmente sentia que o segredo estava a impedir que eu e a minha mãe fossemos mais próximos.. numa altura em que ela precisa mais de mim.
eu já tinha ideia que para a minha mãe não seria muito difícil aceitar.. não ia causar um grande drama :)

Horatius disse...

Bem, acho que no dia em que contar à minha mãe, se contar, gostava que ela reagisse assim. Contudo, conhecendo-a como conheço antevejo lágrimas e depressões com força... O que me desmotiva a 100% para lhe contar...

Meia Noite e Um Quarto disse...

Sempre que leio algo do género lembro-me da minha noite terrível em que contei à família. No fundo, e acho que o sabes, a tua mãe reagiu muito bem, é sempre um choque, e demora tempo a assimilar e a interiorizar, mas dá-lhe tempo. A minha teve uma reação muito semelhante, e hoje é toda pró, toda ativista dos direitos LGBT, e ainda adora o meu namorado, faz-lhe os pratos preferidos propositadamente e tudo :-D
Dá-lhe tempo...pessoalmente depois de lhes ter contado fiquei tão mais próximo da minha família, muito mais carinhoso e afetuoso. Muitos parabéns pela coragem!

Anónimo disse...

fico feliz por teres dado esse passo :) é assim mesmo. Ainda bem que correu bem

Eolo disse...

Um grande abraço por um grande passo.

João Roque disse...

Um passo muito importante na tua vida.
Fizeste muito bem...

Aaron disse...

@Horatius
lágrimas são inevitáveis.. mas quanto mais tempo atrasares isso, mais difícil será. até a minha mãe chorou um bocadinho.

@Meia Noite e Um Quarto
a sério? quem me dera que a minha mãe aos poucos fique assim. mas sim, sei que agora ficarei ainda mais próximo da minha mãe :)
obrigado :)

@Kyle
eheh me too :)

@Eolo
um abraço :)

@João Roque
é verdade :)

Mark disse...

Bom, eu sou contra o assumir-se orientações sexuais. Já me cansei de dizer isto em diversos posts de vários blogues, no entanto, não critico quem o faz. Achaste por bem "assumir-te", okay, opção tua. :)

Eu não o fiz e não o farei por alguns motivos bem básicos: 1., acredito que a mãe saiba; 2., não há nada a contar. Ninguém se assume como heterossexual, ainda que se pressuponha isso.

Discordo do Meia Noite e Um Quarto num ponto: não é sempre um drama. Depende das pessoas. Sei que se dissesse à minha família, reagiriam todos muito bem. Da nossa experiência pessoal não podemos retirar conclusões gerais.

:)

Aaron disse...

@Mark
é mais ou menos como tu dizes em alguns pontos, não há necessidade de se assumir mas.. quando sabemos que as pessoas sabem. o que tu dizes que todas as mães sabem é um mito, a minha mãe foi a prova disso, não fazia a mínima ideia e para ela foi um choque. quando são pessoas que não nos dizem muito ou não são assim tão próximas, eu não tenho de me assumir nunca, foi assim com uma data de amigos meus.. quando estamos a falar de uma mãe, aí sim, se não for por mais, por respeito temos de ser nós a contar para ela perceber e poder fazer todas as perguntas que necessitar fazer.

Mark disse...

Oh Aaron, onde é que eu disse que todas as mães sabem? LOL Andas a ler coisas. :)

Eu disse que creio que a mãe saiba, a minha. Claro que há mães que não sabem. LOL Isso é óbvio.

Sim, claro, são opções. Optaste por contar, fizeste bem. :)

Aaron disse...

ah, percebi mal essa parte das mães saberem :P sry eheh

Meia Noite e Um Quarto disse...

@Markinho tb andas a ler coisas :-) nunca disse que era sempre um drama, drama e choque são termos díspares, especialmente no que toca a reações. No caso a mãe do aaron teve ali um choque mas não fez drama. No meu caso, efetivamente houve drama. lol Mas no cerne tens razão, não tem que ser sempre assim, o sempre saiu-me ;-)

Mark disse...

Meia Noite e Um Quarto, as tuas palavras foram: " (...) é SEMPRE um choque, e demora tempo a assimilar e a interiorizar (...) "

E não li coisas. Disseste que é SEMPRE um choque. E eu disse, e reitero, que não. Nem sempre é um choque ou um drama. Há pais que reagem bem. Usei drama porque me pareceu que era esse o termo que tinhas utilizado. Mea culpa. Dá no mesmo. Mais: se a tua mãe fez um drama, também passou pelo choque, logo, complementam-se, embora, e admito, não sejam exactamente a mesma coisa. O choque não pressupõe o drama, mas o mesmo não se verifica quanto ao drama, que já abarca o choque.

Resumindo, e só mudo os termos, discordo porque nem sempre é um choque.

R disse...

Bom parece que ela até nem reagiu mal face a situação. Claro que agora me parece que ela precisa de um tempo para encaixar melhor a ideia. Mas tens todos os motivos para estar contente.

Espero que no dia em que decidir tomar esse passo a minha Mãe reaja de forma tão calma como a tua. Confesso que tenho bastante receio desse dia... :S

Aaron disse...

@Rúben
não, não reagiu muito mal :)
tens que ir avaliando a tua mãe para estares mais preparado quando esse dia chegar :)

Aaron disse...

@Rúben
não, não reagiu muito mal :)
tens que ir avaliando a tua mãe para estares mais preparado quando esse dia chegar :)

Lobo disse...

Muitos Parabéns! Gostei muito deste momento :)

Aaron disse...

@Namorado
obrigado :)

Pipe disse...

r. Deus queira que o teu caminho nunca se cruze com um taxista. Terás uma vida de paz se isso acontecer XD

Homem, Homossexual e Pai disse...

belissimo texto! parabens pela coragem, parabens pela iniciativa! espero que as coisas entre vc e sua mae estejambem e que ela ja tenha aceitado um pocuo mais! abs

Aaron disse...

@Pipe
espero bem que não :)

@Homem, Homossexual e Pai
obrigado :) aos poucos vai aceitando cada vez melhor claro.