quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

situações marcantes

há dias em que lembro-me de alguns dos momentos que mais me marcaram de alguma maneira, agora com os problemas que tenho tido com o meu carro lembrei-me do dia que a minha mãe teve um acidente com ele, a maneira como a minha mãe agiu, a preocupação dela marcou-me.

não sei bem em que altura do ano foi, já não me recordo se estava de férias ou se era só um sábado em que acordei tarde mas era uma da tarde quando acordei com a minha mãe a ligar-me.

-mãe, a chorar: tive um acidente! estraguei o teu carro todo!
-eu, ainda meio a dormir: como? onde estás? onde estás? 
-mãe: estou a caminho da cidade, depois da recta do shopping
-eu: vou já aí ter.

nem perguntei se estava bem nem nada, naquele momento só queria ir lá ter rapidamente. vesti-me o mais rápido que consegui, peguei na chave do carro da minha mãe e saí de casa, liguei-lhe logo a seguir.

-eu: mas estás bem? não te aleijaste?
-mãe: não, eu estou bem mas o teu carro está todo estragado, desculpa
-eu: mãe, quero lá saber do carro, o que interessa é que estás bem.

cheguei lá em dez minutos, o meu carro estava virado de lado, em muito mau estado. vi a minha mãe e fui ter com ela, ela abraçou-me logo a chorar e sempre a pedir desculpa pelo carro e mais uma vez disse-lhe que não interessava, o importante é que ela estava bem. 
o que me marcou foi isso mesmo, ver a minha mãe naquele estado só preocupada com o carro, como se isso fosse mais importante que ela, como se ela tivesse medo que me chateasse com ela por causa de bens materiais no lugar da sua saúde. ela quando me ligou ainda estava dentro do carro de lado, foi a primeira coisa que fez antes até de sair do carro. durante muito tempo andei a bater um pouco mal com isto. 

mas é assim que a minha mãe é, nunca teve muita auto-estima, nunca se valorizou, acha sempre que os outros são mais importantes.

depois penso que nem sempre dou o devido valor à minha mãe, gosto muito dela, falo com ela quase todos os dias mas às vezes podia ser mais fofo com ela, dizer mais vezes que gosto dela, isso ia fazê-la muito feliz, então vou esforçando-me para tal, mas nós nunca tivemos aquela relação em que demostramos o nosso amor mas nos últimos tempos isso tem mudado aos poucos.

não quero só dar valor à minha mãe depois de a perder, quero ajudar para que ela seja feliz. acho que este mal é algo que muitos filhos sofrem, dão os pais como dados adquiridos e só depois de os perder é que percebem o quão importantes eles eram. 

e tu, tens assim alguma situação que ficou marcado na tua vida? dás o devido valor aos teus pais?

8 comentários:

zehtoh disse...

É engraçado ter lido isto que escreveste, principalmente a parte de gostarmos muito de alguém mas não termos o tipo de relação em que se demonstra isso facilmente. É algo que sinto também e em que tenho pensado ultimamente. E embora já seja algo reconhecido, não é fácil mudar depois de já ser o modo habitual de agir com a família, desde sempre. Acho que passar a ser subitamente mais efusivo e a dizer constantemente a importância que algumas pessoas têm para mim facilmente faria com que ficassem preocupadas pela mudança súbita e a pensar que algo de estranho se passava. Por isso é que a minha opção tem passado por fazer um esforço maior pra estar mais presente, apesar da distância a que nos encontramos e de acabarmos por só nos ver de tempos a tempos.

Aaron disse...

tens razão, não é fácil mudar o que sempre foi o habito entre duas pessoas mas a minha mãe também tem mudado, assim que ficou só comigo pois divorciou-se do meu pai, começou a ter mais a necessidade de se apoiar em mim.
agora dizemos mais vezes que gostamos um do outro entre outras coisas.
mas acho que fazes bem, vais tentando falar com eles várias vezes e mostrando-te interessado na vida deles. :)
bem vindo aqui ao blog!

Anónimo disse...

Todos os dias falo com a minha mãe seja 10 segundos ou 10 minutos.. E como sabes estou longe de casa e sinto que a distância fortaleceu a nossa ligação, o facto saber que estou no mínimo 3 meses sem a ver só é ultrapassável com uma constante preocupação. E a maneira dela atenuar é ligando falando comigo como se eu estivesse a 5 minutos de casa. Em relação a demonstrar afecto eu sempre demonstrei isso aos meus pais e sou bastante fofo com a minha mommy quer em sms's quer nos telefonemas :) Já estou como o Miguel R dizia à uns dias - só me falta ir comprar cortinas com ela xD looool

Aaron disse...

isso é bom, pelo menos a distância parece menor. és fofo com alguém? isso surpreende-me :P
ahah, eu acho que era bem capaz de ir às compras de cortinas com a minha :)

Lobo disse...

Acho que sim. Deves ser mais fofo com a tua mãe. Elas não são eternas.

Aaron disse...

pois, é o que penso :)

Horatius disse...

olha, a minha mãe também é um bocado assim com os carros. Quando tem uma mossa ou coisa do género é um desgosto de morte. Já tive dois acidentes, e foi sempre só chapa. Nunca me aconteceu nada. Contudo, isso atinge-a de uma maneira inexplicável. Já lhe disse várias vezes que são apenas os carros e a nós não nos acontece nada, e isso é o mais importante.

Creio que isto virá um pouco do passado dela - e talvez também do da tua mãe. Quando tinham 20s, não tinham um nível de vida suficiente para comprar um carro,e hoje têm. Dão-lhe muito valor por isso.

Aaron disse...

@Horatios
é isso mesmo, é chato estragar um carro pois sai caro, mas antes o carro que nós.
sim, também é verdade, um carro é algo demasiado caro para os bolsos portugueses.